A Rádio Cidade 96,9 FM em 3 Atos – Começo, Meio e Fim – Parte Final
Continuação – O meio e o fim.
No artigo anterior, tive a proposta de apresentar as razões que levaram a Rádio Cidade FM de São Paulo ao fim. Durante as décadas de 80 e 90, a Rádio Cidade FM de São Paulo, tornou-se uma referência no segmento da freqüência modulada na América Latina. Qual o motivo do seu fim…
Em 1995, a Rádio Cidade volta ao primeiro lugar, não mais com o caráter absoluto que detinha anteriormente. A emissora passa a ter que dividir os números da audiência com mais três concorrentes de peso no segmento, que foram a Transcontinental, a Nativa e a Band Fm. Explicar as razões técnicas talvez não seja tão difícil como explicar as razões sentimentais do crepúsculo da Rádio Cidade.
Este tempo não volta nunca mais. Para tentarmos entender um pouco o que aconteceu, temos que voltar no relógio do tempo e lembrar da era de ouro do rádio nas décadas de 30 a 50 no século passado. O rádio reinava absoluto na mídia, pois conquistara o status de único veículo de massa do nosso país. Em 1936, surgia a Rádio Nacional do Rio de Janeiro que se tornou na época, a estrela de platina da comunicação brasileira. Por seus corredores circulavam os maiores nomes da música e uma constelação de rádio atores que paravam o Brasil na hora das transmissões das rádios novelas.
Em, 1950 a televisão chega e serve de divisor de águas na história do rádio brasileiro. Tudo que havia de melhor no meio rádio, migrou para a tv. O rádio perdia talentos, prestígio e anunciantes. Somente depois da década de 60 é que o meio volta a crescer devido a chegada do transistor, que deu ao aparelho receptor maior portabilidade.
A década de 70 foi marcada pela influência dos militares no poder, que começam a distribuir concessões de FM com o objetivo de interiorizar o rádio. Ou seja, era interesse do governo tirar da mão das grandes redes de AM a sua grande audiência, pois anteviam problemas em ter grupos fortes de rádio unidos a favor de determinadas correntes filosóficas e políticas atuando no cotidiano da população. Várias FMs começam a operar timidamente nesta década, veiculando músicas clássicas e instrumentais, mas com uma qualidade de som muito superior à do AM. A qualidade do estéreo fazia a grande diferença aos ouvidos da audiência e a freqüência modulada começa a emplacar.
Surgem nomes desconhecidos até então, como Transamérica, Antena 1, Imprensa, juntamente com outros já consagrados pelo Am, como a Jovem Pan 2, Eldorado, Record, Manchete e Globo Fm. Foi no dia 25 de janeiro de 1980 que surgiu uma rádio bem no dia do aniversário da cidade de São Paulo, denominada Rádio Cidade FM a rádio da cidade. Começava então a trajetória da maior emissora de freqüência modulada do país.
Reunia em seu contingente artístico, ao contrário da Rádio Nacional do Rio de Janeiro em 1936, um time de jovens locutores meio inseguros no ar, mas muito divertidos, que logo conquistaram a paixão dos ouvintes paulistanos. A Rádio Cidade adota para si, a receita dos Djs americanos, como eram denominados na época.
As rádios americanas, principalmente as de Nova York, desenvolveram na sua comunicação um estilo descontraído e espontâneo, logo imitado pelas emissoras brasileiras. O que diferia a Rádio Cidade das americanas era o jeito brasileiro de ser.
Um misto de notícias sérias com descontraídas lidas com competência e bom humor, irrigadas pelos ares da democracia e da abertura política que começava a surgir na época. Adaptada aos moldes brasileiros a Rádio Cidade rapidamente alcançou o topo da audiência e passou a escrever uma bela história de sucesso.
O início do seu fim começa em 1998 e segue até a sua ultima transmissão em 2005. Era o que denomino o crepúsculo da Cidade. Da mesma maneira que sol se põe no horizonte à fim de trazer a noite e fazer nascer um novo dia, a Rádio Cidade passa a declinar na audiência, no faturamento e na preferência dos ouvintes. Afinal, poderá um dia nascer uma nova Rádio Cidade no dial?
Talvez, elas até já existam, mas não são percebidas tão notoriamente como a antiga Rádio Cidade. Muito porque o sabor da novidade um dia passa e o que perdura é a criatividade e o compromisso de fazer rádio com profissionalismo, aliás, coisas que não envelhecem nunca.
Saudades do período em que lá trabalhei como locutor:
Tenho saudades do clima que era fazer aquela rádio. Dos amigos, dos ouvintes, dos eventos e dos shows que eram promovidos naquela época. Uma outra coisa que me traz muita saudade é o estúdio.
A mesa do ar com seus enormes botões, os cartuchos com vinhetas, músicas e efeitos que levavam a sonoridade da melhor plástica radiofônica que eu já ouvira até então. Era uma espécie de célula mágica dentro da rádio, por onde eu embarcava e deslizava na corrente sanguínea da maior cidade da América Latina.
Minha voz era levada não só aos quatro cantos da cidade de São Paulo, mas para dentro dos automóveis, das casas, dos escritórios, das fábricas e principalmente para dentro da vida das pessoas.
Ah, isto talvez seja a maior recompensa para um locutor, o reconhecimento por parte do público. Ser lembrado pelos seus ouvintes até os dias de hoje não tem preço, seja no natal ou no seu aniversário através dos cartões de cumprimentos, que acabam sendo o maior presente que um radialista possa receber. Esta é a melhor lembrança que tenho dos meus anos de Rádio Cidade, os nossos ouvintes. Meu incentivo – Olha, eu diria que se você quiser chegar em um lugar onde a maioria não chega, você precisa começar a fazer o que a maioria não faz.
Ou seja, inicialmente você precisa acreditar no seu sonho. Estabelecer suas metas e partir para a consecução delas. Faça dentro do lícito o que for preciso para conquistar seu espaço.
Estude, leia, pratique e hasteie suas bandeiras. É importante ter seus ídolos profissionais, como eu tive os meus. Quais os parâmetros para seguir os passos de um ídolo? Procure seguir os que fazem do exemplo o seu melhor conselho.
Cyro César – Março 2020
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