A Rádio Cidade 96,9 FM em 3 Atos – Começo, Meio e Fim – Parte 1
Parte 1 – O começo
Vou trazer ao nosso Blog desta vez, uma velha discussão. Porque a Rádio Cidade FM de São Paulo, que durante as décadas de 1980 a 2005, foi referência no segmento da frequência modulada na América Latina, um dia acabaria…
Trabalhando nela:
Bom, costumo dizer que o rádio começa de um sonho, vira uma paixão e termina numa eterna conquista. Trabalhar na Cidade representava as três coisas ao mesmo tempo.
Um sonho, uma paixão e uma conquista. Sempre confidenciei à amigos próximos que no dia em que sintonizassem a Rádio Cidade e me ouvissem no ar, poderiam ter certeza que lá estaria um cara realizado e feliz. Pois é, foi isso que aconteceu, fui contratado para substituir o Mário Gil que se transferia para o Rio de Janeiro na época.
Foi uma grande responsabilidade, pois além do Mário ser um grande locutor, o horário era o do Programa Love Songs. Posso dizer que o meu primeiro dia na Rádio Cidade, parecia o meu primeiro dia no rádio.
O coração pulsava muito forte e a voz não escondia as nuances da minha emoção. Se eu estava nervoso? Sim, estava bastante. Afinal a Rádio Cidade era líder absoluta em todos os horários, inclusive no da noite o qual eu apresentaria.
Era mais fácil imaginar que algum dia a capital do Brasil mudasse de Brasília para outro lugar, do que imaginar que a Rádio Cidade pudesse acabar.
Era uma rádio completa. Mas vamos aos fatos do porquê do seu fim. Primeiramente, divergências administrativas entre os acionistas. O proprietário de 51 % das ações era o Décio Matos, os detentores dos outros 49 % eram os acionistas do Jornal do Brasil. A determinada altura, o Décio quis implantar algumas reformas estruturais na emissora e não recebeu o apoio dos demais.
Ai, começaram os problemas, pois ele era legalmente o sócio majoritário, mas quem fazia a gestão administrativa era o Jornal do Brasil. Houve uma batalha judicial que levou pouco mais de uma década e que interferiu muito na flexibilidade administrativa da emissora.
Mandatos de segurança aqui, liminares ali, o que acabou desestabilizando o trabalho do setor artístico da rádio. Como não bastasse a grande perda para a emissora foi não poder mais se utilizar dá marca Cidade, tendo que ser substituída por outra denominada, Sucesso. Isto porque era o Jornal do Brasil que detinha os direitos da marca Cidade. A rádio era a mesma, mas o nome não e isto na cabeça e nos ouvidos da audiência pesou muito.
Agora analiso os efeitos mercadológicos. A Cidade em 1993 abriu mão da sua tradição de rádio popular, companheira e amigona do ouvinte. Assumiu uma posição mais vanguardista que foi abraçar uma nova tendência na época que era o pop dance.
Hoje observando com mais conhecimento, o mercado de rádio no Brasil passa por períodos sazonais e por tendências musicais que vão e vem. No entanto o gênero popular permanece dentro de um estilo clássico que se mantém constante. Isto quer dizer que a grande predominância no país ainda é o estilo sertanejo regionalista, pagode, samba, axé e outros ritmos populares regionais.
Se é que houve um grande erro estratégico foi ai. A Rádio Cidade abriu mão de alguns milhões de ouvintes para buscar um segmento mais elitizado. Ou seja, ao você mudar a classe social, você muda também o universo de artistas executados na programação, muda a classe social do ouvinte e conseguinte o target de patrocinadores. Ao mexer numa ponta da estrutura comercial da emissora, dificilmente você vai conseguir manter o mesmo segmento de ouvintes.
O que aconteceu a partir disto era previsível, as concorrentes observando o espaço deixado pela Rádio Cidade no dial, passaram a buscar os ouvintes órfãos do estilo com as mesmas estratégias promocionais e de programação musical. Inclusive muitos locutores da Cidade, como o Tony Lamers, o Nelson Gomes, o Roberto Hais foram contratados pelas concorrentes para preencher este vazio.
Deu certo para as rivais e a Cidade começou a amargar por um longo período os efeitos da queda da audiência no IBOPE. Voltar ao primeiro lugar novamente lhe custou sete anos. No entanto, o preço foi bastante alto para a rádio, pois perante o público, ela voltou com uma imagem bastante diferente da que possuía na década de oitenta.
Cyro César – Março 2020
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Marcílio Lourenço commented on A Rádio Cidade 96,9 FM em 3 Atos: Começo, Meio e Fim – Parte 1
Wladi Lima commented on Porque os Ouvintes Amam Rádio e as Pessoas que Trabalham Nele?
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Gostei do relato sobre a Rádio Cidade. O sucesso alcançado nos anos 80 e 90, no Rio de Janeiro, equivale ao que é hoje a FM O Dia. Estando esta, na análise do artigo, sobre estilos regionais de sucesso…